Sob um barracão, camponeses mostram mandiocas e abóbora, alimentos frutos de seu trabalho. Ao fundo, um estandarte com as palavras “força quilombola”. Essa é a descrição de uma das fotos que compõem a exposição “Retrato falado do Quilombo Campo Grande – resistência e luta”, que esteve em exposição na Vigília Lula Livre, em Curitiba, nesta segunda (10).
A exposição retrata o cotidiano do acampamento Quilombo Campo Grande, localizado em Campo do Meio, no estado de Minas Gerais. Julio Cesar Rolim, autor da foto descrita acima, explica que o objetivo da exposição é mostrar a realidade do cotidiano de militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Identificando-se como “amigo do MST desde o nascimento do movimento”, em 1984, Rolim afirma que a grande mídia confunde a população, disseminando a ideia de que o movimento é composto por “terroristas e baderneiros”.
(Foto: Julio Rolim)
“Nós estamos querendo carregar o MST para as praças, para as ruas, porque nós não podemos ficar somente dentro do movimento e as pessoas não conhecerem realmente o que é o MST. Essa visão preconceituosa que as pessoas muitas vezes têm do MST tem que começar a ser mostrada de uma maneira diferente. A sociedade tem que começar a ver como funciona o MST”, diz.
O acampamento Quilombo Campo Grande, onde as fotos foram tiradas, existe desde 1998. Naquele ano, o MST ocupou as terras da Usina Ariadnópolis Açúcar e Álcool, que foi à falência em 1996 e deixou uma dívida de R$ 300 milhões com o Estado e seus antigos trabalhadores. Em novembro de 2018, o acampamento foi alvo de uma ação de reintegração de posse, movida pela massa falida da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo, antiga a da Usina, que foi suspensa em 30 de novembro.
As fotos expostas na Vigília Lula Livre mostram o cotidiano das mais de 2 mil pessoas que vivem no acampamento. Entre muitos retratos, são expostas também a produção agroecológica das famílias sem-terra. No Quilombo Campo Grande, apenas entre 2017 e 2018, foram produzidas mais de oito mil sacas de café, 55 mil sacas de milho e 500 toneladas de feijão, além de uma variada produção de hortaliças, verduras, legumes, galinhas, gado e leite.
(Foto: Joyce Fonseca)
Segundo Rolim, sua visita ao acampamento foi para conhecer a realidade do movimento. Chegando lá, viu “faces de trabalhadores e trabalhadoras que precisavam ser retratados”. Ele entende que a fotografia é um meio de comunicação de fácil entendimento e que tem ganhado cada vez mais relevância e capacidade de viralização nesse momento de comunicação em redes.
A exposição é composta por fotos de Rolim e dos fotógrafos Joyce Fonseca, Isabelle Medeiros e Dowglas Silva. Depois de Curitiba, a “Expofoto Retrato falado do Quilombo Campo Grande – resistência e luta” deve ir para Florianópolis, Santa Catarina. O objetivo, de acordo com Rolim, é ocupar o máximo de “praças, colégios e universidades do país”, não só com as fotos do Quilombo Campo Grande, mas também de outros acampamentos e assentamentos do MST.
Rolim diz desejar que, assim como ele e seus companheiros de fotografia que tiveram a iniciativa de fazer essa exposição, cada vez mais pessoas se sintam também responsáveis por conhecer a realidade do movimento e disseminar uma visão desmistificada sobre o que é ser sem-terra.
“Para tirar fotografia e mostrar a realidade de um povo, você não precisa ser fotógrafo, basta ter vontade, basta ter anseio no coração de fazer o melhor. Nós não podemos mais itir que esse pessoal continue sendo massacrado e nós fiquemos sem mostrar a verdadeira realidade daquilo que o MST desenvolve em suas lavouras”, afirma.