Mostrar Menu
Brasil de Fato
ENGLISH
Ouça a Rádio BdF
  • Apoie
  • Nacional
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • |
  • Política
  • Direitos
  • Opinião
  • Cultura
  • Socioambiental
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Mostrar Menu
Brasil de Fato
  • Apoie
  • TV BDF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
Mostrar Menu
Ouça a Rádio BdF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Brasil de Fato
Início Opinião

Origem

Artigo | Brancos, negros ou indígenas: quem é maioria no Ceará?

O Cacique Milton Braz, dos Kariri de Poço Dantas-Umari no Crato, disse que pra ser Kariri “precisa dobrar a história”.

06.ago.2020 às 18h21
Fortaleza (CE)
Joedson Nascimento

Movidos pelo interesse nas terras indígenas e na defesa de uma província embranquecida, o retrato de um Ceará sem indígenas foi continuamente reproduzido por políticos e intelectuais da época. - Foto: Thiara Montefusco

Recentemente uma pesquisa sobre a origem genética do povo cearense ganhou destaque na mídia local. O resultado da pesquisa: a maior base da origem é nórdica. À primeira vista, parece uma piada de mau gosto. Mas refletindo sobre os processos históricos que levou à formação do composto pluri-étnico-racial que é a população no Ceará, entendemos que mesmo os trabalhos maquiados de científicos possuem uma função social, são discursos que podem turvar ou encobrir realidades.
 
A maioria da população cearense é branca, negra ou indígena? Particularmente deixei de me aventurar nesse tipo de questão. Afinal, quando se discute isso, o que está em pauta não é realmente quem é maioria. Na maior parte das vezes, a elite branca reconheceu a população cearense como não sendo majoritariamente branca e trouxe a questão do branqueamento num caminho em que a manutenção de sua hegemonia ava por branquear essa massa.
 
O Movimento Negro ao defender um Ceará de maioria negra, está pautando o reconhecimento, valorização e fortalecimento deste grupo social. Suas pautas são justas. De todo modo, ser maioria ou minoria não deve ser critério para o fortalecimento e a dignidade de nenhum grupo. Saindo do Brasil, a população negra nos Estados Unidos representa cerca de 13% do total de habitantes. Os 13% de afro-americanos têm o direito de uma vida digna, partindo e indo além de sua representatividade estatística.
 
Voltando a suposta pesquisa, vejo que esta gerou muitos comentários que criticam a tal maioria nórdica apresentada nos resultados. Para além dessa maioria, quero comentar um “segundo lugar”. A segunda maior base de origem dos cearenses é indígena. É preciso ir mais a fundo sobre essa base indígena. Como não sou estudioso de pesquisas genéticas, prefiro não comentar este caráter do estudo em questão. Me reservo a discutir os usos políticos desses argumentos, no século XIX, as “heranças biológicas”, no século XXI: a “origem genética”.


O Movimento Negro ao defender um Ceará de maioria negra, está pautando o reconhecimento, valorização e fortalecimento deste grupo social. Suas pautas são justas. / Foto: Divulgação/SPS-CE

Envoltos entre conflitos e negociações com os colonizadores desde o final do século XVI, os povos indígenas no Ceará foram alvos de uma outra estratégia colonial a partir do século XIX, quando os governos da então província am a afirmar a inexistência de indígenas nesta parcela do Brasil.
 
A ideia da extinção indígena a a ser elaborada numa teia de ações e discursos politicamente articulados. Movidos pelo interesse nas terras indígenas e na defesa de uma província embranquecida, o retrato de um Ceará sem indígenas foi continuamente reproduzido por políticos e intelectuais da época. O projeto tinha duas frentes: transformar indígenas em cearenses para utilizá-los como mão de obra e, ao negar o caráter étnico dessa população, declarar as terras que ocupavam como devolutas para entregá-las aos brancos.
 
Nesta façanha, ao buscar construir uma identidade para a população da então província, criaram uma alegoria na qual o povo cearense é fruto de miscigenação entre brancos e indígenas, onde o elemento indígena teria deixado heranças biológicas e culturais e depois desaparecido. Esse discurso violento, para além de interditar direitos, negou a própria existência de inúmeros grupos indígenas e negros nesta parcela do Brasil.
 
Parece que estes homens fizeram como a frase cantada por Raul Seixas: “Vamos entrar pra História pessoal”. Assim, criaram um discurso histórico, algo como um camarote. Fora do camarote, ficaram as populações indígenas, negras, negras-quilombolas e ciganas. Daquele camarote, estes homens as enxergavam como braços servis que poderiam ser explorados e também retirados dos lugares que ocupam para a construção de qualquer capricho colonial.
 
Mesmo apresentando contradições e inconsistências, a estrutura social dominante conseguiu manter o discurso de um Ceará sem indígenas durante mais de 100 anos. Vigorando junto a uma realidade de inúmeros indivíduos e coletividades de “caboclos” e “descendentes de índios” vivendo em contato com outros grupos sociais.


Para além de um sequenciamento genético, ser indígena significa pertencer a uma trajetória histórica-espacial. / Foto: Thiara Montefusco

O Cacique Milton Braz, dos Kariri de Poço Dantas-Umari no Crato, disse uma vez que pra ser Kariri “precisa dobrar a história”. Como os Kariri, os povos indígenas no Ceará e no Brasil vem dobrando a história há tempos. Dobrando a negação, as perseguições e outras adversidades.
 
Para a elite que não conseguiu silenciar totalmente a presença indígena no estado, restou comentar as “heranças indígenas” deixadas para o povo cearense. Ressaltar as “heranças indígenas” é mais uma fraude. O Ceará de muitas “heranças indígenas” está com os processos de demarcação de terras indígenas travados. Estes territórios continuam sendo espoliados por empresas e também pelo próprio governo, ao promover obras como o Cinturão das Águas do Ceará.
 
Lembrando de uma frase já um pouco conhecida: “quem não tem sangue indígena nas veias, o tem nas mãos”. E essas mesmas mãos sujas de sangue indígena, controlam muitos territórios destes povos e pressionam para impedir o reconhecimento e demarcação de terras indígenas na contemporaneidade.
 
Para além de um sequenciamento genético, ser indígena significa pertencer a uma trajetória histórica-espacial. Onde entender-se indígena consiste em perceber-se como um galho de “troncos velhos” originários de onde floresce a cultura e um jeito de ser. Mesmo diante de sujeitos sedentos de terras que tentam cercear o espaço dos troncos, galhos e raízes. Estes sujeitos são ambiciosos por possuir mais e mais terras, mas não conseguem se sentir pertencentes a nenhuma delas. São apenas proprietários querendo ser donos de uma Natureza vista como recurso e não como Mãe.
 
Além da ambição por posses, a elite de ontem e os seus filhos de hoje, sofrem de uma carência progressiva de hegemonia. Buscam convencer a si mesmos que são os maiores, os mais numerosos, civilizados, racionais, de base europeia e, agora, nórdicos europeus.

*Um galho de troncos velhos indígenas.

Editado por: Monyse Ravena
Tags: brasil de fato cecomunidades indígenaspovos tradicionais
loader
BdF Newsletter
Escolha as listas que deseja *
BdF Editorial: Resumo semanal de notícias com viés editorial.
Ponto: Análises do Instituto Front, toda sexta.
WHIB: Notícias do Brasil em inglês, com visão popular.
Li e concordo com os termos de uso e política de privacidade.

Veja mais

STF

Moraes nega suspensão do processo que investiga Bolsonaro por envolvimento em trama golpista

TRATORAÇO

Agricultores bloqueiam estradas no RS por renegociação das dívidas dos últimos quatro anos

INCLUSÃO

Paraíba sanciona lei que garante vacinação em casa para pessoas com autismo

ALERTA

Desmatamento na Amazônia cresce 92% em um ano enquanto PL da Devastação avança no Congresso

TEATRO

Cultura nordestina ganha vida em espetáculo infantil de Carol Levy, na Caixa Cultural

  • Quem Somos
  • Publicidade
  • Contato
  • Newsletters
  • Política de Privacidade
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem viver
  • Socioambiental
  • Opinião
  • Bahia
  • Ceará
  • Distrito Federal
  • Minas Gerais
  • Paraíba
  • Paraná
  • Pernambuco
  • Rio de Janeiro
  • Rio Grande do Sul

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.

Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Apoie
  • TV BDF
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • Rádio Brasil De Fato
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Política
    • Eleições
  • Internacional
  • Direitos
    • Direitos Humanos
    • Mobilizações
  • Bem viver
    • Agroecologia
    • Cultura
  • Opinião
  • DOC BDF
  • Brasil
  • Cidades
  • Economia
  • Editorial
  • Educação
  • Entrevista
  • Especial
  • Esportes
  • Geral
  • Meio Ambiente
  • Privatização
  • Saúde
  • Segurança Pública
  • Socioambiental
  • Transporte
  • Correspondentes
    • Sahel
    • EUA
    • Venezuela
  • English
    • Brazil
    • BRICS
    • Climate
    • Culture
    • Interviews
    • Opinion
    • Politics
    • Struggles

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.