O governo de Donald Trump, nos Estados Unidos (EUA), anunciou a interrupção da concessão de vistos a pessoas que, em sua trajetória, tenham feito críticas às suas posições, também está suspendendo vistos já concedidos. O primeiro foco são os estudantes estrangeiros matriculados na prestigiosa Universidade de Harvard que arão por um filtro ideológico. Aqueles que participaram de manifestações em defesa da vida e dos direitos do povo Palestino, por exemplo, já sofrem o peso da discricionariedade ideológica do governo Trump. Os órgãos de controle do governo dos EUA, ao melhor estilo de uma ditadura, vasculham as redes digitais dos interessados em entrar nos EUA para verificar as posições manifestadas.
Estes não serão os únicos. Ao melhor estilo do pastor Martin Niemöller, ele próprio um nazista arrependido, vários outros já sofrem a persecução da política anti-imigração e xenófoba de Trump. Pesquisadores, cientistas, jornalistas, escritores, professores estão sendo deportados dos EUA ou impedidos de lá ingressar, não somente por serem estrangeiros e não serem ricos, mas por manifestarem posições políticas humanistas e progressistas.
A extrema direita brasileira correu para manifestar apoio às medidas de Trump. Nikolas Ferreira, deputado bolsonarista, afirmou categórico: “O cara aqui, na sua rede social, um comunistinha de meia tigela fica falando mal dos Estados Unidos, do Trump, e daqui a pouco está querendo estudar nos Estados Unidos. Não, sua rede social vai ser avaliada, talvez você não tenha visto para estudar nos Estados Unidos”.
As medidas repressivas e autoritárias de Trump não me parecem ser o ápice da política desdemocratizante da extrema direita dos EUA. Elas são as primeiras medidas. Tendem a se tornar uma espécie de plataforma global da extrema direita. Na Europa, com o crescimento da extrema direita, até governos de direita tradicional como o do PSD/AD de Portugal assumem políticas xenófobas, típicas do neofascismo. Sem falar é claro nos governos europeus hegemonizados e liderados por neofascistas e ultradireitistas.
O encontro da extrema direita europeia e mundial ocorrida na Hungria em maio deste ano, AC – Conservative Political Action Conference, demostrou a aglutinação que este campo experimenta sob a liderança de Trump. Disse Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria: “O mundo tem sido varrido por um “tornado Trump”, que restaurou a “esperança” de um regresso à “normalidade e à paz”. “Trata-se do maior regresso do mundo ocidental – um grande e belo regresso”.
Igualmente a América Latina nunca foi uma região livre da extrema direita, ao contrário. Governos reacionários como de Jair Bolsonaro no Brasil, Javier Milei na Argentina, Daniel Noboa no Equador, José Raúl Mulino no Panamá ou Nayib Bukele em El Salvador assombraram e assombram a democracia na região.
Trump, através de suas medidas de direita radicalizada, busca influir nas eleições que ocorrerão em países chaves da América Latina. Brasil, Chile, Colômbia, Bolívia, Honduras e parlamentares na Argentina, (entre outros) terão eleições em 2025 e 2026 e as extremas direitas locais se articulam em torno do manto protetor da política imperialista e ofensiva do governo dos EUA.
O alvo dessas correntes políticas é a democracia e o alvo do governo Trump e a capacidade soberana dos países sul-americanos. A perspectiva da vitória da extrema direita no continente é grave, apontando para o solapamento do caminho progressista que a região trilhou, com claudicância, nas últimas décadas.
A tentativa de golpe de estado de Jair Bolsonaro no Brasil em 2022/23 poderá ter sido um ensaio do que se pode predizer com governos de extrema direita à frente de países importantes. A eleição, em cada um desses países, vai exigir uma política de resistência, de defesa das conquistas civilizatórias que os governos progressistas e de esquerda produziram nos últimos 30 anos.
*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil de Fato