O resultado das eleições legislativas na Venezuela realizado no último domingo (25) “revela um poder interno consolidado e uma política externa alinhada com suas diretrizes [chavistas] principais”, acredita Carlos Eduardo Martins, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) anunciou na última terça-feira (27) o resultado definitivo das eleições legislativas. Com 99,88% das urnas apuradas, o Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), elegeu 253 deputados e terá maioria na Assembleia Nacional. O segundo grupo com mais congressistas será a Alianza Democrática, com 13.
Em entrevista ao podcast de política internacional do Brasil de Fato, o especialista disse que “o resultado é um fortalecimento interno muito expressivo do governo Maduro, que vai garantindo para a Venezuela um papel de liderança do campo progressista na América do Sul”, acrescentou Martins.
“Não há dúvida de que a Venezuela foi o país que mais fez eleições na América Latina, e isso já fazia parte da estratégia do governo chavista em relação a uma ideia de democracia protagônica, que envolva a sociedade em diversos níveis.”
O professor também lembrou que essa democracia de protagonismo popular é uma das principais características “enquanto em outras democracias, existe uma série de violações do direito de voto, ou pelo menos com elementos que produzem desvios em situações minimamente competitivas”.
“Como os EUA, por exemplo, em que o peso financeiro das eleições norte-americanas é brutal”, lembrou Martins. As eleições têm forte relação com a quantidade de recursos que financia determinadas candidaturas. Por isso, as eleições por lá estão limitadas a dois partidos.”
Por outro lado, ao lembrar que o voto no país é facultativo – e que as últimas eleições tiveram 42% de participação popular, Lorenzo Santiago, correspondente do Brasil de Fato, pontuou que “existem muitos fatores que contribuem para este número. O primeiro ponto é a questão da imigração”.
“Fazendo um recorte específico dessas eleições, tem um pouco da campanha da María Corina Machado, mas também o estresse político gerado pela eleição do ano ado, com a oposição contestando o resultado.”
“Existe também uma ausência natural de eleições regionais; ou seja, menos interesse em participar de eleições menos representativas, como as presidenciais”, acrescentou o correspondente do BdF.
Mas, um ponto ficou muito claro para o governo chavista de Maduro, segundo Lorenzo: “Essa eleição, e a vitória acachapante, deixou clara o grau de apoio ao chavismo dentro da sociedade venezuelana.”
Papel importante no campo progressista
Carlos Eduardo Martins avalia que, com a vitória massiva, “o governo Maduro ganha condições de governabilidade mais ampla e apoio massivo da Assembleia Legislativa”.
“O resultado é um fortalecimento governamental interno muito expressivo, que vai garantindo para a Venezuela um papel expressivo de ser uma liderança do campo progressista na América do Sul. Esse é o resultado mais imediato [das eleições].”
“A Venezuela revela um poder interno consolidado e uma política externa bastante previsível nas suas diretrizes principais. Então a Venezuela poderá ser um parceiro bastante confiável e estável para alianças internacionais e participação em organismos como o Brics, se em algum momento isso for contemplado.”
O podcast O Estrangeiro vai ao ar toda quarta-feira às 11 horas no Spotify e YouTube.